domingo, 9 de novembro de 2008

Prolegômenos

Assim como na Introdução Kardec modificou relativamente pouca coisa no pequeno texto intitulado Prolegômenos. E da mesma forma, algumas observações podem ser extraídas destas modificações.

Doutrina ou filosofia?
Assim como na Introdução Kardec já havia se referido a uma filosofia espiritualista e no quinto parágrafo deste Prolegômenos também há uma alteração neste sentido. Mudando de doutrina para filosofia parece que Kardec quer dar um tom mais abrangente a sua obra.

Primeira edição
"Este livro é a compilação de seus ensinamentos. Foi escrito por ordem e sob o ditado de espíritos superiores para estabelecer os fundamentos da verdadeira doutrina espírita, livre de erros e preconceitos (...)"

Segunda edição
"Este livro é a compilação de seus ensinamentos. Foi escrito por ordem e sob o ditado de espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos preconceitos do espírito de sistema (...)"

Definitiva ou em construção?
Ainda avaliando a diferença entre doutrina e filosofia, é razoável imaginar que a primeira é mais definitiva ou acabada e a segunda faz parte de um processo em construção. Com esta abordagem, é possível entender a alteração já no início da comunicação dada pelos espíritos. Na segunda edição Kardec coloca a obra como "as bases do novo edifício" e não um edifício pronto.

Primeira edição
"Ocupa-te com zelo e perseverança do trabalho que empreendeste com o nosso concurso; é também nosso. Teremos de revê-lo juntos a fim de que não encerre nada que não seja a expressão de nosso pensamento e da verdade, mas especialmente quando a obra estiver concluída."

Segunda edição
"Ocupa-te com zelo e perseverança do trabalho que empreendeste com o nosso concurso, pois este trabalho é nosso. Nele pusemos as bases do novo edifício que se eleva e deve um dia reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e de caridade. Mas, antes de o divulgares, nós o reveremos em conjunto, a fim de controlar todos os detalhes."

Mensagem de parabenização
Kardec exclui uma mensagem de parabenização dos espíritos a ele. Aparentemente não vemos uma explicação lógica para isto. Veja:

"(...) Lembra-te que te ordenamos não só imprimi-la como propagá-la; é algo de universal utilidade. Compreendeste bem tua missão; estamos contentes contigo. Agora, continua, pois não te deixaremos mais."

Às nossas ordens
Ainda no início desta comunicação Kardec resolveu excluir a parte em que ele era colocado sob às ordens dos espíritos.

Primeira edição
"Nous serons avec toi toutes les fois que tu le demanderas, et tu seras à nos ordres chaque fois que nous t'appellerons (...)"

Segunda edição
"Nous serons avec toi toutes les fois que tu le demanderas et pour t'aider dans tes autres travaux (...)"

Traduzindo...

Primeira edição
"Estaremos contigo todas as vezes que o pedires e tu estarás também às nossas ordens sempre que te chamarmos (...)"

Segunda edição
"Estaremos contigo todas as vezes que o pedires e para te ajudar em teus outros trabalhos (...)"

Alma e espírito
A definição de alma parece ser algo complicado. Na explicação sobre o desenho da cepa Kardec refaz a comparação para descrever melhor o que seria a alma.

Primeira edição
"O corpo é a cepa; a alma é o grão; o espírito é o licor."

Segunda edição
"O corpo é a cepa; o espírito é o licor; a alma ou espírito ligado à matéria é o grão."

Avante!
Apenas para constar, Kardec desloca para frente a seguinte frase: "Crê em Deus e caminha com confiança!"

Mensagem de otimismo
Na segunda edição Kardec acrescenta mais dois parágrafos ao final da comunicação passando uma mensagem de otimismo para o trabalho que viria pela frente.

Assinaturas
Na primeira edição não há assinatura da comunicação dada pelos espíritos enquanto que na segunda há uma pequena lista de nomes. Aliás, parte desta lista também está registrada na nota 17 da primeira edição.

Notas
É interessante que as notas do Prolegômenos não têm sido publicadas nas traduções atuais. É uma pena porque se tratam de informações preciosas para a compreensão do trabalho de construção desta obra.

A comparação das notas nas duas edições mostra uma equivalência no primeiro parágrafo embora hajam pequenas inserções. O texto reproduzido abaixo é o da segunda edição com destaques em negrito para as inserções.

"Os princípios contidos neste livro resultam, seja de respostas dos Espíritos a perguntas diretas que lhes foram propostas [por várias ocasiões e por um grande número de médiuns], seja de instruções dadas por eles espontaneamente [a nós ou a outras pessoas] sobre as matérias que encerra. O todo foi coordenado de maneira a apresentar um conjunto regrado e metódico, e só foi dado a lume depois de haver sido cuidadosamente e reiteradas vezes revisto e corrigido pelos próprios Espíritos. [Esta segunda edição foi também objeto de uma nova e minuciosa revisão.]"

Ainda na primeira edição há mais dois parágrafos comentando sobre a disposição em duas colunas para a primeira parte do livro 'Doutrina Espírita'. Além de indicar que os comentários do autor também constituem o pensamento dos espíritos.

Já na segunda edição há mais um parágrafo indicando que as frases entre aspas na sequência das perguntas são as respostas dos espíritos. Mas, ainda assim continua a afirmar que os comentários do autor (o que não está entre aspas) sofreu o controle dos espíritos.

9 comentários:

Nevo disse...

Vital e Léo
Parabéns a vocês!
Fiz alguns comentários mas não consegui acessar num primeiro momento e agora não tenho mais tempo para refazer tudo. Em outra oportunidade me manifestarei sobre o assunto.

Vital Cruvinel disse...

Maravilha, Nevo!
O mais importante foi sua intenção de nos incentivar. A gente precisa muito disso!
Valeu!

Carlos Silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Boa tarde! Descobri este blog recentemente e devo desde já dar os parabéns pelo esforço aplicado neste excelente trabalho.
No entanto, ao ler alguns posts, me vejo com algumas dúvidas. O fato de kardec ter acrescentado ou apagado claramente alguns pontos do livro dos espíritos não mostra manipulação de informação? Como pode ele alterar a mensagem de um espirito apenas porque assim achou necessário?
É como se kardec quisesse cnoduzir a doutrina para onde ele planejava e se sentisse no direito de alterar livremente as mensagens de espiritos.

Vital Cruvinel disse...

Muito obrigado, Carlos!

Sua dúvida é muito pertinente. Um dos objetivos de Kardec era a de construir uma doutrina coesa, consistente. Para tanto ele teve que selecionar algumas mensagens e ajustar outras. Isto fazia parte de seu trabalho. É uma pena que ele não tenha registrado as mensagens originais.

Leopoldo Daré disse...

Olá Carlos Silva!
Realmente nos deixa perplexo, em um primeiro momento, percebermos que as mensagens publicadas por Kardec em O Livro dos Espíritos foram ajustadas por ele. Não estão na integra como os Espíritos escreveram e não os autores espirituais não são indicados em cada resposta.
Para mim, a constatação deste fato deixa claro que Kardec buscava uma coerência entre as mensagens. É como se cada Espírito lhe apresentasse uma faceta da verdade, e Kardec acreditava ser capaz de alcançar uma verdade superior ao fundir e recortar as mensagens, mantendo apenas o que parecia-lhe mais coerente na obra completa. Mesmo assim, O Livro dos Espiritos possuem várias respostas parcialmente discordantes.

Fabiano Henrique disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fabiano Henrique disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fabiano Henrique disse...

As alterações feitas por Kardec tinham finalidade didática, tornando a obra mais coesa e fácil de entender. Se todo o trabalho foi feito em conjunto com a espiritualidade superior, essas mudanças foram devidamente submetidas e aprovadas pelo Espírito de Verdade. O Livro dos Espíritos é obra de fôlego, um marco na história da humanidade. Pena que esta ainda não o compreendeu.