terça-feira, 25 de novembro de 2008

Questão de estilo

Em alguns dos diálogos travados entre Kardec e os espíritos, as perguntas e respostas foram reformuladas sem nenhum prejuízo ou aumento do entendimento. A primeira vista trata-se de uma questão de estilo. Vejam, por exemplo, a reformulação do mapeamento abaixo.

Primeira edição
67. Os espíritos possuem percepções que nos são desconhecidas?
"Certo que sim, pois vossas faculdades são moderadas pelos órgãos. A inteligência é um atributo do espírito, mas que se manifesta mais livremente quando não há obstáculos."
A inteligência é um atributo essencial da natureza espírita, não é senão o próprio espírito. O poder de conhecer é resultante da ação da inteligência. Esse poder, quando não está circunscrito pelos órgãos corporais, se exerce amplamente e sem entraves; razão por que os espíritos têm percepções que nos são desconhecidas.

Segunda edição
237. Uma vez no mundo dos Espíritos, a alma conserva ainda as percepções que tinha quando da sua vida física?
"Sim, e outras que ela não possuía porque seu corpo era como um véu que as obscureciam. A inteligência é um atributo do Espírito, mas que se manifesta mais livremente quando não há obstáculos."

Observem que a pergunta da primeira edição está incluída na resposta da segunda edição. Isto é, na primeira edição pergunta-se sobre as novas percepções e na segunda, sobre as percepções anteriores (da vida física). E, conferindo as respostas, o resultado é praticamente o mesmo.

Esta reformulação revela a liberdade que Kardec tinha para escrever e reescrever a sua obra. E mais do que simplesmente estilo, algumas vezes ele reescrevia para tornar o texto mais claro... ou quase para não dar margem a interpretação. Vejam:

Primeira edição
423. Há no homem alguma coisa que escapa a todo constrangimento e pela qual ele desfruta de uma liberdade absoluta?
"Sim, a liberdade de pensar."
__ Pode ser entravada a manifestação do pensamento?
"Sim; mas o pensamento, não. É no pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites."

Segunda edição
833. Há no homem alguma coisa que escapa a todo constrangimento e pela qual ele desfruta de uma liberdade absoluta?
"É no pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites, porque não conhece entraves. Pode-se deter-lhe o vôo, mas não aniquilá-lo."

Observe que Kardec remove a primeira frase da segunda resposta na primeira edição (em vermelho). Estilisticamente, é fácil de perceber que esta frase é desnecessária e soa contraditória. E toda a obra de Kardec é pautada pela clareza e concisão das idéias.

Neste exemplo também, assim como no primeiro, Kardec inclui a pergunta na resposta, isto é, acrescenta no final da resposta "porque não conhece entraves" que traz a idéia da pergunta original.

É interessante destacar ainda que esta reestilização também passa pela fusão de respostas que é uma característica comum nesta mudança da primeira para a segunda edição do Livro dos Espíritos.

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