Nas pesquisas feitas sobre a natureza do espírito Kardec buscou se certificar da real individualidade de cada um de nós. E para isto usou o exemplo dos gêmeos imediatamente após uma direta resposta dos espíritos. Vejam:
Primeira edição
90. Pode o espírito encarnar-se em dois corpos diferentes ao mesmo tempo?
"Não, ele é indivisível."
__ De onde provêm a semelhança de caráter que exite, muitas vezes, entre dois irmãos, sobretudo se gêmeos?
"Espíritos simpáticos que se aproximam pela semelhança de seus sentimentos e que são felizes por estarem juntos."
Por indivisível, o espírito não pode encarnar-se em dois corpos diferentes de uma vez. A analogia de caráter que muitas vezes existe entre várias pessoas, e sobretudo entre irmãos, provém da semelhança dos espíritos que se aproximam por simpatia e são felizes de estar reunidos.
Segunda edição
211. De onde provêm a semelhança de caráter que exite, muitas vezes, entre dois irmãos, sobretudo se gêmeos?
"Espíritos simpáticos que se aproximam pela semelhança de seus sentimentos e que são felizes por estarem juntos."
Observem que na segunda edição o primeiro par de perguntas e respostas foi removido do diálogo. Com isto Kardec elimina uma informação contextual importante que é a origem ou razão da pergunta seguinte. Isto é, perde-se um pouco do contexto de onde estava inserida.
Mas, por que Kardec teria feito isso? Primeiramente, é preciso entender que a resposta continua sendo válida e exatamente a mesma. E numa elaboração mais metódica e didática Kardec incluiu este par de pergunta e resposta na subseção 'Semelhanças Físicas e Morais' (207 a 217). E a questão da indivisibilidade dos espíritos ele deixou para tratar na subseção 'Forma e Ubiquidade dos Espíritos' (88 a 92).
Aproveitando a questão é importante lembrar que não nos compete e não é nosso desejo julgar se as reformulações foram certas ou erradas. O importante é as identificarmos e procurarmos entender as motivações de Kardec. Assim poderemos compreender o processo de construção desta obra e da própria evolução do pensamento de Kardec.
Vale ressaltar ainda que o comentário da primeira edição não foi publicado na segunda. Apartentemente isto se trata de uma questão de estilo para não parecer muito repetitivo uma vez que a idéia da "simpatia e semelhança de sentimentos" já estava clara na resposta.
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