sábado, 29 de novembro de 2008

Repouso físico e moral

Algumas vezes as palavras podem aprisionar as idéias quando são colocadas de forma delimitada explorando um único entendimento. Na sua nova edição, Kardec procurou romper estes limites abraçando um conjunto maior de idéias e experiências observadas no intervalo de amadurecimento entre as duas edições.

Possivelmente ao ter contato com espíritos sofredores Kardec se deu conta de que as sensações destes espíritos se assemelham àquelas dos espíritos encarnados. Foi assim que ele ampliou o conceito de fadiga e repouso ao dividir o diálogo 73 da primeira edição nos dois diálogos 253 e 254 da segunda edição. Vejam:

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Gêmeos e a indivisibilidade

Os irmãos muito próximos e particularmente os gêmeos são casos especiais que despertam a atenção tanto de cientistas como de espiritualistas. Assim, também aconteceu com Kardec na elaboração de suas perguntas nos diálogos com os espíritos.

Nas pesquisas feitas sobre a natureza do espírito Kardec buscou se certificar da real individualidade de cada um de nós. E para isto usou o exemplo dos gêmeos imediatamente após uma direta resposta dos espíritos. Vejam:

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Questão de estilo

Em alguns dos diálogos travados entre Kardec e os espíritos, as perguntas e respostas foram reformuladas sem nenhum prejuízo ou aumento do entendimento. A primeira vista trata-se de uma questão de estilo. Vejam, por exemplo, a reformulação do mapeamento abaixo.

domingo, 23 de novembro de 2008

O espírito do sexo

Infelizmente, Kardec abordou o tema da sexualidade de forma relativamente breve. Na primeira edição temos uma única pergunta sobre o sexo dos espíritos (131) e na segunda edição temos três (200, 201 e 202). Por outro lado, este aumento, ainda que pequeno, demonstra uma certa necessidade de desenvolver melhor o tema.

Observem no mapeamento abaixo a forma objetiva e definitiva na primeira edição e a forma mais maleável e aberta na segunda:

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Realidade dos sonhos

Os sonhos possuem uma posição de destaque nos ensinamentos espíritas uma vez que eles podem refletir nossas experiências espirituais fora do corpo físico. Por outro lado, também podem refletir o produto de nossa imaginação.

Neste ponto, a visão do mestre Allan Kardec alterou-se significativamente ao ampliar as hipóteses envolvendo os sonhos. Por exemplo, Kardec, tendo maior controle sobre a doutrina, passa a ser mais criterioso em relação a capacidade de visão espiritual dos extáticos. Em um extenso diálogo na primeira edição com seis pares de perguntas e respostas (mais os comentários adicionais) uma das respostas se destaca por estar ligeiramente modificada. Vejam:

Margem a interpretação

O mestre Allan Kardec tinha plena consciência da importância em oferecer um conjunto de ensinamentos claros e objetivos. Sabia que os diálogos com os espíritos não poderiam dar margem a diferentes interpretações. Neste sentido ele retocou algumas das respostas dos espíritos ainda que o estudo completo da obra direcionasse para uma única interpretação.

Ou seja, ele não tinha absoluta necessidade de fazer algumas das modificações que fez, mas entendeu ser importante para evitar que os diálogos lidos individualmente pudessem dar margem a uma interpretação equivocada. A seguir colocaremos um exemplo de como isto se deu.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O espírito deixa de ser sinônimo de Espírito

Ao compararmos a Introdução da primeira edição com a da segunda edição d'O Livro dos Espíritos notamos um comportamento repetido a exaustão: nas palavras “espírito” colocadas no meio da frase, foi substituído o “e” minúsculo pelo “E” maiúsculo 105 vezes. Este comportamento sistemático nos demonstram 2 coisas:


a) Kardec foi extremamente cuidadoso em seu trabalho de revisão e reformulação dos textos d'O Livro dos Espíritos. Desta forma, toda diferença entre as duas edições deve ser valorizada e investigada, em busca das possíveis motivações de Kardec.

domingo, 16 de novembro de 2008

Comentários ou respostas?

O Livro dos Espíritos é composto de uma série de diálogos e de comentários colocados ao final de algum destes. A primeira vista, pode-se dizer que as perguntas foram formuladas por Kardec, as respostas foram dadas pelos espíritos e os comentários elaborados por Kardec. Mas será que existe aí uma delimitação bem definida? Ou existe um grau de liberdade na responsabilidade de cada um?

Do tópico anterior sobre a fusão das respostas pudemos perceber que Kardec teve uma participação ativa na seleção e redação das respostas atribuídas aos espíritos. Mas, e quantos aos comentários? Teriam os espíritos participação neles? De acordo com o próprio Kardec, sim.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Fusão de respostas

O mestre Kardec deu uma pista muito importante sobre a forma lapidar com que construía sua obra. A partir de suas anotações pessoais reproduzidas em Obras Póstumas podemos extrair um resumo deste processo de construção:

"Não me contentei, entretanto, com essa verificação; os Espíritos assim mo haviam recomendado. Tendo-me as circunstâncias posto em relação com outros médiuns, sempre que se apresentava ocasião eu a aproveitava para propor algumas das questões que me pareciam mais espinhosas. Foi assim que mais de dez médiuns prestaram concurso a esse trabalho. Da comparação e da fusão de todas as respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes retocadas no silêncio da meditação, foi que elaborei a primeira edição de O Livro dos Espíritos, entregue à publicidade em 18 de abril de 1857."

domingo, 9 de novembro de 2008

Prolegômenos

Assim como na Introdução Kardec modificou relativamente pouca coisa no pequeno texto intitulado Prolegômenos. E da mesma forma, algumas observações podem ser extraídas destas modificações.

Doutrina ou filosofia?
Assim como na Introdução Kardec já havia se referido a uma filosofia espiritualista e no quinto parágrafo deste Prolegômenos também há uma alteração neste sentido. Mudando de doutrina para filosofia parece que Kardec quer dar um tom mais abrangente a sua obra.

sábado, 8 de novembro de 2008

Começando pela Introdução

A Introdução do Livro dos Espíritos foi relativamente pouco modificada da primeira para a sua segunda edição. Entretanto, das poucas modificações pode-se extrair observações interessantes.

Postura defensiva
A apresentação de uma nova doutrina à sociedade exigiu de Kardec uma postura mais defensiva ao tratar dos novos conceitos e das explicações envolvendo os fenômenos mediúnicos.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Notas Explicativas 3

Quantos diálogos possui a segunda edição?

Uma pequena questão, que se torna importante para nós nos entendermos ao comparar as duas edições, é definir quantos diálogos possui a segunda edição d'O Livro dos Espíritos. São 1018 ou 1019 diálogos? Está confusão se deve as divergências entre as diferentes decisões tomadas pelos diferentes tradutores e editores para solucionar uma falha presente na segunda edição do original francês. Na segunda edição francesa temos a ausência do número 1011. Após a pergunta enumerada 1010, segue-se uma com travessão e a próxima com o número 1012. A tradução de Guillon Ribeiro, ao chegar no diálogo 1010, interrompe a enumeração das perguntas sem número, que vinha fazendo até então com letras, e optou por manter rigorosamente a mesma falha, deixando a questão entre a 1010 e a 1012, e as demais questões não numeradas por Kardec, apenas com o travessão originall. A tradução de Evandro Bezerra optou por enumerar a pergunta entre a 1010 e a 1012 com o número 1011. A tradução de Herculano Pires apresenta diferentes padrões, dependendo do ano de impressão, sugerindo interferência do editor. Publicação impressa em 2002 enumera a questão sem número como 1010-a, tirando uma unidade numérica de todas as seguintes, finalizando com 1018 diálogos. A publicação impressa em 1989 faz uma confusão maior : enumera a questão sem número com 1010-a, como em 2002, porém, a questão enumerada com 1011-a em 2002, é substituído por 1012, e desta forma, finaliza o livro com 1019 diálogos (veja tabela abaixo).

Notas Explicativas 2

1) Os Livros dos Espíritos consultados.


Para realizar esta comparação, deparamos com uma limitação pessoal: não dominamos o francês. Por este motivo, utilizamos várias traduções brasileiras e o original em francês para conferirmos algumas contradições das traduções e / ou dúvidas. Este trabalho, nos permitiu também analisar um pouco do trabalho diferenciado dos tradutores brasileiros no trato com a obra original. Foram consultados:


a) O Primeiro Livro dos Espíritos de Allan Kardec, tradução de Canuto Abreu, Companhia Editora Ismael, 1957.

sábado, 1 de novembro de 2008

Minuciosa revisão

Uma das melhores qualidades do escritor Kardec foi a grande capacidade de revisão de sua obra. Esta pode ser depreendida do alto grau de coerência nos seus textos e nas idéias. Muito dificilmente se encontram pontos "fora da curva". Isto é, pontos que se distanciem muito do restante da obra.

Quando comparamos mais atentamente diferentes edições podemos observar o elevado grau de detalhe que o mestre Kardec impunha na sua revisão. E este refinamento tinha objetivos muito além da estética. Servia principalmente para ajustar idéias originalmente imprecisas ou que distanciassem muito da síntese de seu pensamento atual.

Notas Explicativas 1

Perguntas ou Diálogos?

Uma explicação que acostumei ouvir era que a primeira edição possuía 501 “perguntas”, e Kardec ampliou a segunda edição para 1019 “perguntas”. A discussão sobre a simplicidade da explicação de que Kardec apenas “ampliou” O Livro dos Espíritos na segunda edição faz parte de todo o corpo deste trabalho. Neste momento quero apenas propor um conceito diferente para as 501 “perguntas” e para as 1019 “perguntas”. Ao invés de defini-las como “perguntas” prefiro defini-las como “diálogos”, onde cada diálogo pode ser formado por apenas um conjunto de pergunta-responta ou vários conjuntos perguntas-respostas.

Como Tudo Começou Comigo (Leopoldo Daré)

Tentarei contar como a vida, meus interesses e escolhas me trouxeram até este blog e a este projeto de comparação das duas primeiras edições d'O Livro dos Espíritos.

Preciso começar minha história há aproximadamente dez anos atrás, com fatos que apesar de importantes para mim, não foram devidamente registrados, e suas imagens imprecisas parecem envoltas em uma névoa permanente. Começarei pelo Congresso Médico-Espírita Brasileiro de 1999, ou 1997. No programa do congresso daquele ano havia um workshop diferente, que se propunha a falar de métodos de pesquisa, e defendia a tese de que a metodologia de pesquisa social é o método naturalmente herdeiro dos trabalhos de Kardec, e o caminho que os cientistas espíritas deveriam tomar. Infelizmente não me lembro do nome da professora, do sul do país, responsável pelo workshop.