sábado, 20 de dezembro de 2008

A escalada da escala

A classificação das diferentes ordens de espíritos não é algo que deva ser encarado de forma absoluta. Tanto é assim que Kardec refez mais de uma vez sua escala espírita durante o período compreendido entre as publicações das duas primeiras edições do Livro dos Espíritos.

Na primeira edição observamos que as respostas já dão conta das três ordens principais de espíritos: puros, bons e imperfeitos. Para as duas primeiras Kardec ainda não tinha feito suas subdivisões. Mas para a terceira ordem, dos imperfeitos, ele a subdividiu em três classes.

Primeira edição
57. Quais são os espíritos da terceira ordem?
(...)
Podem ser divididos em três classes principais:
1 Os espíritos neutros: Os que não são bastante bons para fazer o bem nem bastante maus para fazer o mal.
2 Os espíritos impuros: Os que são inclinados ao mal que é o objeto de suas preocupações.
3 Os espíritos estouvados: São levianos, malígnos, insensatos, mais turbulentos que maus; metem-se em tudo e se comprazem de causar pequenos desgostos e risotas, ou de induzir maliciosamente em erro para mistificações. Também se designa sob os nomes de elfos ou duendes.

Em fevereiro de 1858 Kardec publica na sua recém-lançada Revista Espírita o artigo 'Escala espírita'. Neste artigo ele aprimora a classificação apresentada na primeira edição. Subdivide a segunda ordem, a dos bons espíritos, em quatro classes (benevolentes, sábios, sensatos, superiores) e acrescenta mais uma classe na terceira ordem (pseudo-sábios). Vale notar também que ainda não existia uma hierarquia definida entre as classes da terceira ordem.

Já na publicação da segunda edição do Livro dos Espíritos Kardec acrescenta mais uma classe, a dos espíritos batedores, entre as da terceira ordem de espíritos. É interessante observar, por sua vez, a ressalva de que esta não é "propriamente uma classe distinta" e também que esta nova classe estava anteriormente incluída na dos espíritos levianos segundo o artigo citado.

Segunda edição
106. Sexta classe - Espíritos Batedores e Perturbadores - Estes Espíritos não formam, propriamente falando, uma classe distinta pelas suas qualidades pessoais, podendo pertencer a todas as classes da terceira ordem. (...)

Voltando a Revista Espírita, no mês anterior à divulgação da escala já encontramos menção a esta classe de espíritos batedores e a preocupação em considerá-la ou não uma "categoria especial". Vejam:

Revista Espírita, janeiro de 1858
Respostas dos Espíritos a algumas perguntas
P. Entre os Espíritos que produzem efeitos materiais, os que se chamam de batedores formam uma categoria especial, ou são os mesmos que produzem os movimentos e os ruídos?
R. "O mesmo Espírito pode, certamente, produzir efeitos muito diferentes, mas há os que se ocupam, mais particularmente, de certas coisas, como, entre vós, tendes os ferreiros e os que fazem trabalhos pesados."

De qualquer forma, é importante voltar a frisar que a classificação nada tem de absoluta como bem descreve Kardec em suas belas palavras.

Segunda edição
100. (...) Todavia, de um grau a outro a transição é insensível e sobre seus limites a pequena diferença se apaga como nos reinos da Natureza, como nas cores do arco-íris, ou ainda como nos diferentes períodos da vida do homem. Pode-se, pois, formar maior ou menor número de classes, segundo o ponto de vista sobre o qual se considera a questão.

3 comentários:

Leopoldo Daré disse...

Amigo Vital

não está facil acompanhar sua produtividade! Este exemplo da Escala Espírita é mais um dado que fundamentará a comprovação do método de Kardec. Interessante destacar que você levantou a informação que Kardec extraiu de uma comunicação mediúnica + o pré-teste de sua proposta feita através da publicação na Revista Espírita. Temos ainda mais uma fonte para comprovar: a influência das discussões desenvolvidas dentro da Sociedade de Estudos Espíritas de Paris.

grande abraço

Leo

Vital Cruvinel disse...

É verdade, Leo!
No caso específico da inclusão da classe dos espíritos batedores temos no ano de 1858 vários artigos relacionados como o "O Espírito batedor de Bergzabem" e o "O Espírito batedor de Dibbelsdorf".
Abraço!

Vital Cruvinel disse...

Uma nova observação:

O diálogo 100 da segunda edição é a reprodução do artigo 'Diferentes ordens de Espíritos' que está exatamente antes do 'Escala Espírita' na Revista Espírita de fevereiro de 1858.

Há uma mudanças bem significativa que eu acabei deixando passar... Kardec remove um trecho no qual afirma que a classificação é de sua iniciativa:

"Não podemos, entretanto, reivindicar a totalidade desse trabalho como sendo obra nossa. Se o quadro, que damos em seguida, não foi textualmente traçado pelos Espíritos, e se dele tivemos a iniciativa, todos os elementos dos quais se compõe foram tomados dos seus ensinamentos; não nos restou mais do que formular-lhe a disposição material."