segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Quem são eles?

Pouco se sabe dos espíritos que auxiliaram Kardec a compilar sua primeira obra literária no Espiritismo. Henri Sausse afirmou na biografia de Kardec que o mestre teria recebido cinquenta cadernos contendo perguntas e respostas obtidas nas ainda incipientes sessões mediúnicas.

Tanto na primeira quanto na segunda edição do Livro dos Espíritos não há informações suficientes para identificar corretamente quais seriam os autores espirituais da obra. Contudo e, de qualquer forma, vale a pena explorar um pouco as diferenças entre uma edição e outra.

Na primeira edição encontramos referências aos espíritos nas notas explicativas anexadas ao final do livro. Na nota X há uma citação de médicos contemporâneos de Kardec: um alemão considerado o pai da homeopatia, Samuel Hahnemann, e o outro um famoso cirurgião francês, Guillaume Dupuytren.

Primeira edição - Nota X
Entre os espíritos que se ocupam, com uma sorte de predileção, do alívio da humanidade, de preferência a quaisquer outras coisas, muitos animaram, aqui, ilustres médicos da antigüidade e dos tempos modernos, e entre estes últimos citaremos, fora outros, Hanemann e Dupuytren que, embora não estivessem totalmente de acordo quando aqui, se entendem perfeitamente no mundo dos espíritos e se unem de bom grado quando há o bem a fazer. A bondade, que foi a essência do caráter de Hanemann, não se desmente em sua nova situação; é sempre a mesma benevolência e solicitude pelos que se esforça em curar, e os resultados que obtém chegam no limite do prodígio.

Na qualidade de atentos observadores gostaríamos de destacar a grafia aparentemente incorreta de Hanemann sem o 'h'. É apenas um detalhe, mas não custa nada apontá-lo.

Na nota XII há um diálogo com um espírito (não identificado) que em vida foi condenado a morte por crimes praticados e que sofria no processo de desencarnação. Na nota XIII há um relato da comunicação com espíritos ainda encarnados.

Primeira edição - Nota XIII
Uma pessoa evocada por um de seus parentes respondeu que habitava o planeta Juno. Após alguns instantes de palestra, cujos detalhes sobre coisas privadas não permitiam duvidar de sua identidade, ela se despediu, acrescentando: "Eu preciso te deixar; tenho quatro filhos e eles têm necessidade de meus cuidados."
Outro Espírito evocado respondeu que estava reencarnado na Terra, mas, naquele momento, seu corpo estava doente e acamado, e provavelmente não viveria muito. Dizia ele: "Adeus, meu corpo está acordando. Precisa tomar o remédio."

Para quem ficou curioso pelo "planeta Juno" recomendamos a leitura do tópico Benefício de inventário. Já na nota XV temos um exemplo de diálogo com o espírito Théophile Z (veja os links aqui, aqui, e aqui). Este espírito foi um ilustre desconhecido e também contemporâneo de Kardec. Pela qualidade do diálogo, mais tarde, boa parte das perguntas e respostas foram aproveitadas na segunda edição do Livro.

Finalmente na nota XVII encontramos uma pequena lista indicando os principais responsáveis pelo conteúdo da primeira edição do Livro.

Primeira edição - Nota XVII
... Vários espíritos concorreram simultaneamente a estas instruções, às quais assistiam, tomando alternadamente a palavra e falando um em nome de todos. Entre os que animaram personagens conhecidas citaremos João Evangelista, Sócrates, Fénelon, são Vicente de Paulo, Hannemann, Franklin, Swedenborg, Napoleão Primeiro; Os demais habitam esferas elevadas e que nem viveram na Terra ou aqui apareceram em época muito remota. Concebe-se que de uma tal reunião espírita somente podiam sair palestras graves e impregnadas de sabedoria; e esta sabedoria nunca se desmentiu um só momento, e jamais uma palavra equivocada e inconveniente lhe maculou a pureza.

Nesta nota sobre os autores do Livro observamos uma nomeação de personagens conhecidos e uma simples indicação de espíritos que não passaram pela Terra. Da lista dos oito conhecidos figuram três personagens do cristianismo: João Evangelista, autor de textos bíblicos, Vicente de Paulo, um sacerdote católico francês que viveu no século XVII, e François Fénelon, um escritor e teólogo francês de idéias liberais nascido em meados do século XVII.

Nesta lista ainda aparece o grande filósofo da antiguidade, Sócrates, provavelmente era o espírito protetor de Kardec e que já foi motivo de uma boa discussão a respeito da identidade do Espírito Verdade. E os quatro últimos da lista são: o médico alemão Hannemann, citado anteriormente (aliás, olha outra grafia incorreta, o primeiro 'n' no lugar do 'h'), o cientista americano Benjamin Franklin (século XVIII), o espiritualista sueco Emanuel Swedenborg (século XVIII), e o imperador francês Napoleão Bonaparte (século XIX).

Vale ainda destacar que não existe menção ao Espírito de Verdade (l'Esprit de Vérité) na primeira edição embora Canuto Abreu em sua tradução o identifique em expressões comuns como, por exemplo, "soit l'expression de notre pensée et de la vérité" contida nos prolegômenos.

Já na segunda edição encontramos outros espíritos comunicantes e alguns assinam suas respostas às perguntas formuladas por Kardec. São elas:

  • 495 - São Luis e Santo Agostinho
  • 665 - pastor M. Monot falecido em 1856
  • 664 - São Luis
  • 917 - Fénelon
  • 919 - Santo Agostinho
  • 1004, 1006, 1007, 1008 - São Luis
  • 1009 - Santo Agostinho, Lammenais, Platão, Apóstolo Paulo
  • 1010, 1019 - São Luis

Nesta lista aparecem novos nomes que não existiam na primeira edição. O mais frequente deles é o do rei francês São Luís (*), o presidente espiritual da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas fundada por Kardec. O segundo mais frequente desta lista é Santo Agostinho, um dos mais importantes teólogos do Catolicismo que viveu no século IV.

Aliás, na resposta a pergunta 919 Agostinho diz que ajudou no "ditado" do Livro, mas ele não tinha sido mencionado na primeira edição. No final da conclusão é encontrada uma mensagem final de sua autoria.

Ainda entre os novos autores estão um pastor contemporâneo de Kardec de nome Monot. Também, o filósofo francês Lammenais falecido na década em que Kardec iniciou seus trabalhos; o grande filósofo discípulo de Sócrates, Platão; e o Paulo de Tarso, personagem e autor de textos bíblicos.

Finalmente em Prolegômenos encontramos a lista da primeira edição citada anteriormente que sofreu uma reelaboração. Vejam:

Segunda edição - Prolegômenos
São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, O Espírito de Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, etc, etc.

Da lista original (na primeira edição) foram retirados os nomes de Hahnemann e Napoleão Bonaparte. E foram incluídos o de Santo Agostinho, São Luís, O Espírito de Verdade, e Platão. É interessante notar que os quatro santos aparecem na frente dos outros.

No próximo tópico exploraremos a Revista Espírita identificando os espíritos que colaboraram para a confecção da segunda edição.

(*) Agradeço aos amigos Marcelo Henrique, Augusto Araújo e Celso Benito pelas informações a respeito deste importante personagem para o Espiritismo.

9 comentários:

Magali BIschoff disse...

Olá Vitor

Na lista postei um recadinho para vc sobre a identidade do Luiz IX que está no E.S.E

A propósito vc esqueceu de citar Erasto!

Delphine Girardin, Heine,Lamennais,
Morlot,Pascal,Vianney.

Sobre Erasto eu escrevi um interessante texto veja no site da Feal: http://feal.com.br/colunistas.php?col_id=33
Abraços
Magali

Francisco amado disse...

Execelete trabalho parabéns.
Coloquei um link lá no blog para o seu.

Leopoldo Daré disse...

Muito obrigado Francisco!
Seu apoio é uma grande honra e satisfação para nós.

stormbringer disse...

Sobre os tais cadernos, alguma pista de onde foram parar?

Vital Cruvinel disse...

Oi, Rhea!

Infelizmente não tenho pistas sobre estes cadernos. Aliás, guardo pouca esperança de que eles ainda existam (se é que existiram).

Uma possibilidade seria a de estar no depósito da livraria Leymarie. Mas creio que alguém já deva ter ido até lá.

Outra possibilidade seria a de estar no Museu Espírita em São Paulo ou, então, com o neto do Canuto Abreu.

Abraço!

stormbringer disse...

Oi Vital,

Pois é. Em vários artigos pela net encontro referências aos tais cadernos, mas seu paradeiro é uma incógnita.

Talvez aquela história de que Canuto foi procurado para ser o depositário de documentos que não poderiam ser destruídos reforce a tese de que sua família tenha o material em seu poder, mas certeza não se tem.

Penso que se estivessem no museu , disponível à quem quisesse ver, em algum lugar da rede isso teria sido anunciado. Mas não é o que lemos. Então, sua tese faz sentido: ou se perderam , ou nunca existiram.

Mas, vou procurar mais um pouquinho . . .

Abraço

Vital Cruvinel disse...

Oi, Rhea!

Com certeza a família do Canuto Abreu possui documentos históricos importantes, mas não se sabe quais são.

O Museu Espírita também os possui... alguns documentos estão disponíveis ao público, mas outros não. Não sei se você já foi lá, mas o acesso é muito dificultado.

Não há um catálogo do que existe por lá. Não temos acesso a todas as salas. Há depósitos que só os responsáveis pelo Museu tem acesso. Se você quiser ler um livro, por exemplo, tem que escrever uma carta explicando porque quer lê-lo.

Se você estiver em São Paulo então acho que vale a pena insistir indo lá. Não sei se você vai achar os cadernos, mas vai achar outras coisas interessantes.

Abraço!

stormbringer disse...

Vital, muito obrigada. Igualmente grata pelo belo trabalho disponibilizado aqui.
Abraço .

inimigopublico disse...

Não seria mais aceitavel acreditar que ele leu a obra de Santo Agostinho ao crer que o Santo falava com ele?