sábado, 28 de fevereiro de 2009

O Livro em Revista

A Revista Espírita é considerada o laboratório de Kardec para o desenvolvimento do conhecimento espírita. Além disso, podemos considerá-la como um meio eficiente de propagação das idéias espíritas vinculadas às obras básicas e complementares do Espiritismo.

Kardec soube aproveitar bem as edições mensais da Revista para este fim. E, assim, podemos encontrar várias citações sobre o Livro dos Espíritos desde simples referências até o anúncio de novas edições e novos livros.

A partir destas citações das edições do Livro podemos construir um pequeno resumo de como se deu a sua publicação.

  • Abril de 1857 - Lançamento da primeira edição do Livro dos Espíritos.
  • Janeiro de 1860 - Esgota-se o que restava da primeira edição.
  • Março de 1860 - Sai a segunda edição "inteiramente refundida e consideravelmente aumentada".
  • Agosto de 1860 - Esgota-se a segunda edição em menos de quatro meses e uma nova edição é lançada.
  • Fevereiro de 1861 - A quarta edição já está a venda.
  • Julho de 1861 - Vem a aparecer a quinta edição.
  • Junho de 1863 - Em seis anos chegou-se a décima edição.
  • Novembro de 1865 - O Livro já teria chegado a sua décima terceira edição.
  • Janeiro de 1866 - Fazia-se imprimir a décima quarta edição.
  • Maio de 1869 - Havia-se chegado a sua décima sexta edição.

Montando um pequeno gráfico destes dados fica mais fácil visualizar o período de maior intensidade de publicações que foi entre 1860 e 1863.



As citações do Livro dos Espíritos feitas de forma explícita na Revista Espírita compreendem todo o período sob responsabilidade de Allan Kardec. Contamos um total de 134 artigos em que existem estas citações e estão distribuídas conforme o gráfico abaixo:



É interessante destacar que o período entre 1861 e 1864 com uma maior intensidade de artigos com citações ao Livro está de acordo com o seu período de maior publicação.

Apenas para ilustrar os tipos de citações do Livro dos Espíritos na Revista Espírita construímos o seguinte gráfico de onde podemos observar uma distribuição relativamente equânime dos temas.



Com esta humilde pesquisa quisemos demonstrar o apreço e tratamento dado ao Livro dos Espíritos durante o período em que a Revista Espírita foi comandada pelo mestre Kardec. Observa-se o especial cuidado com as edições e a propagação da nova doutrina filosófica. Também sabe dosar a publicação dos elogios e das críticas direcionados ao Livro enquanto procura estabelecer a estrutura organizacional e os princípios básicos do Espiritismo.

4 comentários:

Leopoldo Daré disse...

Bom dia Vital

Este levantamento é muito estimulante para avaliar a importância d'O Livro dos Espíritos e o zelo de Kardec com suas obras.

Quero destacar um ponto de seu texto. Quando você demonstra que as edições foram mais rápidas entre 1860-1863, você escreve que houve maior impressão. No entanto, para saber se as impressões e vendas foram maiores precisamos saber qual foi o tamanho de cada edição. Se a partir de 1863, as edições passaram a ter maior número de exemplares, pode ser que a venda tenha continuado grande. Você conseguiu dados sobre o número de exemplares de cada edição?

abraços

Leo

Vital Cruvinel disse...

Oi, Leo!

Seria bem interessante conhecer a tiragem de cada edição. Estou buscando na Revista Espírita, mas não encontrei muita coisa... continuo tentando.

O que consegui até agora são algumas informações que juntas podem nos dar uma idéia. Por exemplo, em uma passagem Kardec diz que teve um lucro líquido de 500 francos com a publicação da primeira edição. Em outra passagem ele informa que de cada livro ele tira 10%. E em outras passagens diz que as obras principais de Kardec custavam 3 francos e 50 centavos.

Vamos admitir que a primeira edição também tenha custado 3 francos e 50 centavos. Assim, temos um total de 500 / 0,35 = 1430 exemplares. Considerando um Kardec generoso e tenha doado uns 5% dos seus exemplares então teremos uma tiragem de 500 / (0,95 * 0,35 - 0,05 * 3,5) = 3170 exemplares.

Mas se eu tivesse que chutar eu diria que a tiragem foi de 2000 exemplares. Será?!

Abraço,

Vital.

Augusto Araujo disse...

Oi Vital, oi Leo: com algum atraso escrevo esse comentário. Mas, relendo esse post por sugestão de Vital, lembrei-me que a Sandra Jacqueline Stoll lamenta não poder dimensionar o volume total da produção kardeciana, nem o seu universo de leitores. Mas, faz uma comparação interessante: analisando a produção de Helena Blavatski, fundadora da teosofia, constata que "Ísis sem véu" (1877)teve a primeira edição de mil exemplares, vendida em dez dias. "A doutrina secreta", também de Blavatski, teve a primeira edição com tiragem de 500 exemplares, e esgotou-se antes mesmo do lançamento. Comparando com a primeira edição de "Sobre a origem das espécies" de Darwin (1859)que teve primeira edição com tiragem de 1250 exemplares, ela considera que, talvez, a média editorial no período estivesse circunscrita entre esses valores. A velocidade das re-edições de Blavatski se compara, ao que parece, à de Kardec. E a de Darwin é bem superior. Bem, é isso... acho que são dados interessantes que podem ajudar a compreender um pouco como as coisas aconteceram com Kardec e sua obra.

Vital Cruvinel disse...

Olá, Augusto!

Obrigado pelas interessantes observações! Acabei me lembrando da informação de que a primeira edição do Livro esgotou-se em quatro meses (não lembro onde li isso).

E relendo o post vi que em janeiro de 1860 ainda haviam exemplares à venda. Ou seja, necessariamente eram de outras tiragens da primeira edição.

O pesquisador John Monroe havia me dito que tinha visto duas edições de 1857 com formatos (tamanhos) diferentes. Achei isto muito curioso.

Abraço!