sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A fina ironia

Praticamente, todo o nosso trabalho tem sido feito em cima da comparação entre as duas primeiras edições do Livro dos Espíritos. A primeira apareceu em abril de 1857 e a segunda, em março de 1860. Depois desta ainda tivemos outras 9 edições publicadas por Kardec sendo que a última delas (a décima terceira) foi publicada em 1865.

O sucesso da segunda edição foi seguida rapidamente por duas novas edições possivelmente sem modificações.

Revista Espírita, setembro de 1860
Aviso
A segunda edição do Livro dos Espíritos, publicada em março de 1860, esgotou-se em 4 meses. Uma terceira edição acaba de ser liberada.

Revista Espírita, março de 1861
O homenzinho ainda vive
O Livro dos Espíritos, que passa por conter a exposição mais completa da doutrina, foi publicado em 1857; a 2a edição em abril de 1860, a 3a em agosto de 1860, quer dizer, quatro meses mais tarde, e em fevereiro de 1861 a 4a estava em venda; assim, três edições em menos de um ano ...

Ainda no mesmo ano de 1861 Kardec publicou sua quinta edição onde consta uma pequena e controvertida errata contendo alguns acréscimos e a supressão da expressão "e intuitiva" no final da resposta da pergunta do diálogo 586. Aliás, este é o único ponto da errata que foi incorporado nas futuras edições. Mais detalhes podem ser obtidos no artigo A Errata do Livro dos Espíritos do professor Silvio Chibeni.

Após a publicação desta quinta edição um crítico mal intencionado descobriu um improvável erro gramatical no Livro. Dizemos improvável por conhecermos o rigor de Kardec nesta questão (ver, por exemplo, algo similar em Comentários ou respostas?).

Revista Espírita, julho de 1861
Os Espíritos e a gramática
Um grande erro gramatical foi descoberto em O Livro dos Espíritos por um profundo crítico, que nos dirigiu a nota seguinte:
"Li, na página 384, parágrafo 911, linha 23, do vosso O Livro dos Espíritos: "Há muitas pessoas que dizem: Eu quero; mas a vontade não está nos lábios; eles querem e estão bem satisfeitos que isso não seja." Se tivésseis colocado: "Elas querem e estão bem satisfeitas que isso não seja," não credes que o francês nisso ganharia? Estive tentado em crer que o vosso Espírito escritor protetor é um farsante que vos faz cometer faltas de linguagem. Apressai-vos em puni-lo e sobretudo corrigi-lo."

Este artigo é especialmente interessante porque mostra o bom humor de Kardec e a sua fina ironia. Vejam, por exemplo, como Kardec começa a sua resposta ao crítico:

Lamentamos não poder dirigir os nossos agradecimentos ao autor dessa nota; mas foi sem dúvida por modéstia, e para se subtrair aos testemunhos de nosso reconhecimento, que esqueceu de colocar seu nome e seu endereço, e que se limitou a assinar: Um Espírito protetor da língua francesa. Uma vez que parece que esse senhor, ou esse Espírito, se dá ao trabalho de ler as nossas obras, rogamos aos bons Espíritos consentirem em colocar nossa resposta sob seus olhos.

Após lançar bons argumentos a favor do uso original do pronome Kardec arremata:

Os Espíritos que ditaram a frase em questão não são, pois, completamente tão ignorantes quanto o pretende esse senhor; estamos mesmo tentados em crer que disso sabem um pouco mais que ele, embora, em geral, se irritem muito pouco com a exatidão gramatical, à maneira de mais de um de nossos sábios que não são todos a primeira força sobre a ortografia. Moral: É bom saber antes de criticar.

De qualquer forma, no fundo Kardec sabia que o crítico tinha uma certa razão em relação ao erro e, assim, optou pela alteração do pronome nas futuras versões do Livro. Aliás, aparece uma nota na décima terceira e última edição do Livro informando sobre esta correção. Para maiores detalhes sobre esta nota ver a edição comemorativa do Livro dos Espíritos editada pela FEB com tradução de Evandro Noleto Bezerra.

Um comentário:

Anônimo disse...

PARABÉNS PELO EXCELENTE TRABALHO.
Abraço fraterno.