domingo, 13 de fevereiro de 2011

Flama espírita

A partir deste post começaremos uma nova frente de trabalho por meio da comparação do capítulo X 'Manifestação dos Espíritos' da primeira edição do Livro dos Espíritos com a atual edição do Livro dos Médiuns.

A forma do espírito, propriamente dito, é uma daquelas questões que fogem completamente de nossa realidade material. Tanto na primeira como na segunda edição do Livro dos Espíritos, Allan Kardec associou o espírito a uma chama ou flama. Isto se encontra no diálogo 41 da primeira edição e com a mesma essência no diálogo 88 da segunda, nos seguintes termos:

Livro dos Espíritos (segunda edição)
88. Os Espíritos têm uma forma determinada, limitada e constante?
"Para vós, não; para nós, sim. O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão ou uma centelha etérea.
Essa chama ou centelha tem uma cor qualquer?
"Para vós, ela varia da sombra ao brilho do rubi, segundo seja o Espírito mais ou menos puro.

Por outro lado, a possibilidade do espírito se manifestar como uma flama é colocada de forma diferenciada entre a primeira edição do Livro dos Espíritos e o Livro dos Médiuns.

Livro dos Espíritos (primeira edição)
202. (...)
__ Podem aparecer aos vivos sob uma forma humana não material?
"Sim, nas aparições que chamais visões."
__ Todos os espíritos nos aparecem sob as mesmas formas?
"Não."
(...)
Manisfestam-se também debaixo da aparência de flamas ou clarões e ainda revestindo formas, quer humanas, quer outras, que nada têm das propriedades conhecidas da matéria. É a expensas de seu envoltório semi-material, ou perispírito, que eles atuam no corpo e em nossos sentidos.

Livro dos Médiuns
100. (...)
28. Os Espíritos podem se tornar visíveis sob uma aparência diversa da forma humana?
"A forma humana é a forma normal; o Espírito pode variar-lhe a aparência, mas é sempre o tipo humano."
Não podem se manifestar sob a forma de chama?
"Podem produzir chamas, clarões, como muitos outros efeitos, para atestarem sua presença; mas não são os próprios Espíritos. A chama, frequentemente, é apenas uma miragem, ou uma emanação do perispírito; em todos os casos, não é senão uma parte deles; o perispírito não aparece por inteiro senão nas visões."

Na segunda edição a idéia da flama vai se associando mais a superstição do que propriamente a uma realidade. Uma lenda antiga conta que um rei de Roma, quando criança, recebeu um sinal divino na forma de uma nuvem de fogo sobre sua cabeça enquanto dormia. Na primeira edição do Livro dos Espíritos a explicação é de que este fogo seria um espírito, mas, na segunda, é de que foi apenas produzido por um espírito.

Livro dos Espíritos (primeira edição)
202. (...)
__ Que devemos pensar da flama azul que apareceu, diz-se, sobre a cabeça do menino Servius Tullius?
"Foi real; espírito familiar."

Livro dos Médiuns
100. (...)
29. Que pensar da crença que atribui os fogos fátuos à presença de almas ou Espíritos?
"Superstição resultante da ignorância. A causa física dos fogos fátuos é bem conhecida."
A flama azul que apareceu, diz-se, sobre a cabeça do menino Servius Tullius, é uma fábula ou uma realidade?
"Era real; foi produzida pelo Espírito familiar que queria advertir a mãe. Essa mãe, médium vidente, havia percebido uma irradiação do Espírito protetor de seu filho. Todos os médiuns videntes não vêem no mesmo grau, como os médiuns escreventes não escrevem todos a mesma coisa. Enquanto essa mãe não via senão uma chama, um outro médium teria podido ver o próprio corpo do Espírito."

Para não restar dúvidas de que na primeira edição o espírito poderia se manifestar como uma chama indicamos o seguinte diálogo:

Livro dos Espíritos (primeira edição)
213. (...)
As aparições, a que pretendem ver certas pessoas, são de fato efeitos da realidade ou de uma ilusão?
"Certas vezes, imaginação sobreexcitada; então é uma ilusão; contudo nós já temos dito que os Espíritos podem aparecer-vos tanto sob a forma humana, quanto sob a de flama, etc."

Por sua vez, na segunda edição Kardec desenvolveu bem melhor a questão fazendo a seguinte dissertação que se encontra no primeiro capítulo da segunda parte do Livro dos Médiuns.

Livro dos Médiuns
55. Já se disse que o Espírito é uma chama, uma chispa; isto se deve entender do Espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, e ao qual não se poderia atribuir uma forma determinada; mas, em qualquer grau que se encontre, está sempre revestido de um envoltório ou perispírito, cuja matéria se eteriza à medida que ele se purifica e se eleva na hierarquia; de tal sorte que, para nós, a idéia de forma é inseparável da do Espírito, e que não concebemos um sem o outro. O perispírito faz, pois, parte integrante do Espírito, como o corpo faz parte integrante do homem; mas o perispírito sozinho não é o Espírito como apenas o corpo não é o homem, porque o perispírito não pensa; é para o Espírito o que o corpo é para o homem; é o agente ou o instrumento de sua ação.
56. A forma do perispírito é a forma humana, e quando nos aparece é, geralmente, aquela sob a qual conhecemos o Espírito em sua vida. Poder-se-ia crer, em razão disso, que o perispírito, separado de todas as partes do corpo, se amolda de alguma sorte sobre ele e lhe conserva o tipo, mas não parece que seja assim. A forma humana, com algumas diferenças aproximadas de detalhes, e salvo as modificações necessitadas para o meio no qual o ser foi chamado a viver, se encontra nos habitantes de todos os globos, é, ao menos, o que dizem os Espíritos; é, igualmente, a forma de todos os Espíritos não encarnados e que não têm senão o perispírito; é aquela sob a qual, em todos os tempos, se representaram os anjos ou Espíritos puros; de onde devemos concluir que a forma humana é a forma tipo de todos os seres humanos, qualquer que seja o grau ao qual pertecem. Mas a matéria sutil do perispírito não tem a tenacidade nem a rigidez da matéria compacta do corpo; se podemos nos exprimir assim, ela é flexível e expansível; por isso a forma que toma, se bem que calcada sobre a do corpo, não é absoluta; amolda-se à vontade do Espírito, que pode lhe dar tal ou tal aparência a seu gosto, enquanto o envoltório sólido lhe oferece uma resistência insuperável. Desembaraçado desse entrave que o comprimia, o perispírito se expande ou se contrai, se transforma, em uma palavra, se presta a todas as metamorfoses, segundo a vontade que age sobre ele. É por consequência dessa propriedade de seu envoltório fluídico que o Espírito, que quer se fazer reconhecer, pode, quando necessário, tomar a exata aparência que tinha em sua vida, mesmo a de acidentes corporais que podem ser sinais de reconhecimento.

Para finalizar apresentamos a seguir uma pequena correção de um trecho originalmente apresentado como o desenvolvimento das respostas dos espíritos e depois como resposta dos próprios espíritos.

Livro dos Espíritos (primeira edição)
138. (...)
(...) Os Espíritos, nas suas transmigrações de um mundo a outro, se despojam do perispírito do mundo que deixam para revestir instantaneamente o do mundo em que entram. É sob este envoltório que eles nos aparecem, às vezes, com uma forma humana, ou outra diversa, seja nos sonhos, seja mesmo no estado de vigília, mas sempre impalpável ao tato.

Livro dos Médiuns
100. (...)
22. O Espírito, propriamente dito, pode se tornar visível ou não o pode senão com a ajuda do perispírito?
"No vosso estado material, os Espíritos não podem se manifestar senão com a ajuda do seu envoltório semi-material; é o intermediário através do qual age sobre os vossos sentidos. É sob este envoltório que eles aparecem, às vezes, com uma forma humana, ou outra diversa, seja nos sonhos, seja mesmo no estado de vigília, tanto na luz como na obscuridade."

8 comentários:

L3ONARDO disse...

Vital,

Há também esta referência interessante: RE 1858, O Tambor de Bérézina.

Abraço.

Leopoldo Daré disse...

Olá Vital e Leonardo

Apenas acho que devemos tomar cuidado com as diferenças em definição de "Espírito". No Livro dos Espíritos fala-se na essência do Espírito, sem perispírito, como uma flama. Nos demais trechos destacados fala-se sobre a visão que o médium tem de um Espírito, com perispírito sendo visível ao médium e não a essência do Espírito.

Parabéns pelo trabalho initerrupto!

Anderson disse...

Vital,

Muito bom e muito importante este trabalho iniciado por você. Com uma análise mais profunda vamos compreendendo as dificuldades encontradas por Kardec para levar à cabo o trabalho de codificação do Espiritismo. Trabalho este que vem sendo desprezado por aqueles que o pretendem superado, idealizando revisões doutrinárias irresponsáveis que pecam mais por prematuridade do que por um trabalho maduro, consciente, longamente elaborado.
Meus parabéns!

Roselane disse...

Olá pessoal muito bom o blog, parabéns, já tou seguindo vcs, visitem meu blog e seja seguidor, e juntos trabalharmos pela divulgação da nossa doutrina.
abraços!
Roselane.

Roselane disse...

Olá pessoal muito bom o blog, parabéns, já tou seguindo vcs, visitem meu blog e seja seguidor, e juntos trabalharmos pela divulgação da nossa doutrina.
abraços!
Roselane.

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abraços!
Roselane.

Maria das Graças Cabral disse...

Gostaria de parabenizar ao Blog "Decodificando o Livro dos Espíritos", como mais um instrumento de divulgação "responsável" da Doutrina Espírita. Estamos realmente precisando "resgatar" os princípios doutrinários que estão totalmente desvirtuados. À esse respeito, gostaria de convidá-los a conhecer meu Blog, Um olhar Espírita, que também tem como objetivo divulgar a Doutrina dos Espíritos de acordo com as Obras Fundamentais, codificas por Kardec. Podemos estar juntos num mesmo objetivo. Já me coloquei como seguidora deste blog, e aguardo vocês no seguinte endereço: http://umolharespirita1.blogspot.com/ Abraço.

Unknown disse...

Ótimo trabalho recomento também a leitura do Livro dos Fluidos pelo Médium João Berbel
Livro dos Fluidos