domingo, 31 de maio de 2009

Um exemplo de diálogo - Parte 1

O diálogo com os espíritos foi a principal ferramenta que Kardec usou para a elaboração dos ensinamentos espíritas. Compreender como ele usava esta ferramenta é de fundamental importância para continuar construindo o pensamento espírita. E nada melhor do que se basear em um bom exemplo de diálogo.

Na primeira edição do Livro dos Espíritos os diálogos eram mais extensos do que na segunda edição. E no seu apêndice há uma nota contendo um diálogo completo que pode contribuir bastante para a nossa tarefa de decodificar o Livro dos Espíritos.

Dada a relevância deste diálogo faremos primeiramente uma leitura comentada e depois faremos uma discussão sobre os aspectos que nortearam o diálogo. Numa terceira parte avaliaremos de que forma Kardec aproveitou este diálogo para a elaboração dos seus novos textos.

Então... vamos ao diálogo:

Primeira edição
Nota XV
Como desenvolvimento da doutrina do livre arbítrio e de várias outras questões tratadas neste livro, transcrevemos textualmente a evocação de um homem eminente pelo saber, falecido ultimamente; a elevação dos pensamentos que ele exprime é um índice da superioridade de seu espírito.

O espírito que havia desencarnado recentemente foi evocado por Kardec para uma conversa amistosa. O espírito quando encarnado tinha uma certa sabedoria e aparentemente a manteve no plano espiritual.

1. Em nome de Deus Todo-Poderoso, espírito de Théophile Z... nós te pedimos que venha até nós e te digne, com a permissão de Deus, em responder às nossas perguntas.
__ Aqui estou. O que querem de mim?

Kardec faz uma evocação ao espírito pelo nome de sua última encarnação e adianta o propósito de ser uma entrevista ou, em outros termos, uma conversa em que se deseja compreender a nova realidade do espírito. O espírito conterrâneo de Kardec não tinha um nome que ficou para a história, mas pôde contribuir para a elaboração do Livro com as suas qualidades e as suas limitações.

2. Você gostaria de compartilhar suas impressões do que sucedeu após você ter deixado o corpo?
__ Vou te dizer que não esperava ter nenhuma e que o espanto foi por isso maior em mim do que em muitos outros; pois eu estava, confesso, longe de pensar em impressões sentidas em tal momento e acreditava que esta parcela de vida que nos anima retornava ao grande todo.

Este diálogo ocorreu necessariamente antes de 1857 porque faz parte da primeira edição que foi para o prelo no início deste ano. Como vocês sabem Kardec teve seu primeiro contato com as manifestações espíritas através das mesas girantes somente em maio de 1855. E a partir daí pôs-se a dedicar mais positivamente a elas para a chegar a uma "solução para o passado e o futuro da humanidade que ele procurara por toda a sua vida".

Assim, como quem se inicia para a compreensão da realidade espiritual Kardec explora tanto as perguntas mais básicas como as mais complexas. E dessa forma ele pôde extrair o pensamento comum dos diversos diálogos que realizou.

Nesta última resposta o espírito dá a entender que quando encarnado acreditava que as almas dos homens voltavam para o grande todo. E como esta idéia é contrária a imortalidade da alma então Kardec solicitou ao espírito uma confirmação.

3. Não acreditava então na imortalidade da alma?
__ Você sabe quanto é difícil a um homem que tem um pouco de raciocínio crer no inferno e em seres pouco adiantados; achei melhor crer que a alma era uma centelha elétrica que retorna a seu foco.

O espírito confirma e explica a razão para que tivesse esta crença, mas como isto é contrário até a possibilidade do espírito se comunicar então Kardec pede que o espírito diga como ele entende a alma agora (naquele momento).

4. Seu modo de ver, quanto à alma, continua o mesmo de antes da morte?
__ Não; tinha muitas dúvidas; agora não tenho mais nenhuma. Sei que tudo não acaba quando o envoltório carnal falece; ao contrário, é só então que somos verdadeiramente nós mesmos.

Esta resposta do espírito reforça a idéia de que a essência é o espírito e não o corpo. E como o espírito reconhece integralmente sua individualidade então Kardec pergunta onde ele está já que esta individualidade pressupõe uma localização ou algo concreto.

5. Onde está você agora?
__ Perambulando por este globo, contribuindo para a felicidade dos homens.

O espírito na sua vida espiritual parece não ter um local fixo, isto é, pode estar em toda a parte. Na mesma resposta o espírito aproveita para falar sobre sua ocupação. E se ele contribui para a felicidade dos homens então de alguma forma ele está próximo do plano físico. Mas, Kardec quer ir além, quer saber como é possível esta contribuição.

6. Em que pode contribuir para a felicidade dos homens?
__ Ajudando-os nas reformas que são necessárias.

Kardec aparentemente julgou suficiente a resposta ou ficou satisfeito com ela já que carrega uma sabedoria pouco encontrada ao associar a felicidade a reforma íntima. Mas, aproveita também pra saber se esta ocupação vai durar para sempre.

7. Você ficará perambulando por muito tempo?
__ Minha missão, como espírito errante, está apenas começando. Vou tentar inspirar os homens em várias questões graves.

O espírito responde a pergunta, mas também complementa a resposta anterior. Isto é, explica de que forma um espírito em estado errante pode contribuir para a reforma moral dos homens... os inspirando. Kardec desconfia de que esta missão seja muito difícil uma vez que a inspiração sozinha não poderia ser tão poderosa.

8. Será bem sucedido em sua missão?
__ Não é tão fácil como eu gostaria; porque, você sabe, quando temos velhos hábitos custamos a abandoná-los e os homens são teimosos.

A resposta veio de acordo com que Kardec esperava, cheia de sinceridade e de bom senso. Diante da percepção de que o espírito não poderá cumprir integralmente a sua missão, Kardec questiona sobre a felicidade do próprio espírito.

9. Você está feliz no estado em que se encontra agora?
__ Estou muito feliz no meu estado atual; sei que a minha tarefa é bela embora difícil e sei também que vou nascer em um mundo superior quando minha missão terminar.

A felicidade do espírito vem da fé ou da certeza de que depende somente dele a continuação de sua vida em mundos mais adiantados. Ou seja, a sua felicidade não está totalmente vinculada a felicidade dos outros espíritos.

E como aquela época ainda era um período inicial para a formulação dos princípios espíritas então Kardec pede ao espírito confirmar a hipótese da reencarnação uma vez que o espírito disse que nasceria de novo.

10. Você confirma portanto a doutrina da reencarnação?
__ Sim, e por que não? Acha que seria de outra forma? Acha que nesta existência você terá adquirido todos os conhecimentos? Certamente que se fizer o mal vai ser punido, mas por uma vida de provas em que você terá a consciência do que é mal.

O espírito responde de forma categórica e acrescenta que as encarnações são o meio do espírito adquirir conhecimento. Como o espírito disse que nasceria em um mundo superior então Kardec, de forma perspicaz, quis saber onde ele teria nascido antes e, dessa forma, poderia chegar a alguma conclusão da evolução das sucessivas existências.

11. Antes de sua última existência você estava encarnado na Terra?
__ Não, em Saturno.

Especialmente no início do Espiritismo era muito comum os espíritos dizerem sobre suas encarnações em outros corpos celestes do nosso sistema solar, além do planeta Terra. Provavelmente, Kardec já teria obtido a informação de que Saturno seria um mundo superior a Terra. Portanto, pela lógica não faria sentido que um espírito vivendo em um mundo mais evoluído viesse parar em um mundo menos evoluído. Sem perguntar diretamente sobre esta possibilidade Kardec inquire sobre o caráter moral do espírito quando vivia em Saturno.

12. Quando vivia em Saturno reconhecia por acaso algum mal em você?
__ Sim, tal como você vê algum em você; você ousaria dizer que é perfeito? Agora vou te dizer que sentia em mim o mal da ignorância e, achando-me em Saturno, onde o habitante é um pouco mais perfeito do que na Terra, eu me sentia meio deslocado, pois sabia que não tinha adquirido, pelas provas dos mundos inferiores, a felicidade que usufruía encontrando-me num mundo tão humano e tão fraternal. Era absolutamente como um caipira ignorante e rústico posto de repente no meio mais ilustre da corte.

O espírito então reconhece que sua evolução não era apropriada para aquele mundo esclarecendo assim a dúvida de Kardec. Mas ainda faltava ao espírito explicar de que forma então ele foi parar lá.

13. Como se explica que tenha estado em Saturno antes de ficar perfeito o suficiente para lá estar à vontade?
__ Para me dar o estímulo de me instruir em outros mundos, a fim de poder ir a mundos superiores mesmo a Saturno, que ainda se acha muito imperfeito.

Esta resposta completa o raciocínio e satisfaz Kardec. Contudo, Kardec era um homem muito prudente e via nestas questões mais fantásticas a necessidade de conquistar mais apoio, sobretudo pelas respostas de outros espíritos. Foi assim que esta questão da encarnação em outros planetas do sistema solar ele deixou sob benefício de inventário.

Kardec passa então para perguntas mais objetivas para compreender a individualidade do espírito. Aliás, ele já tinha tentado isto na pergunta 5, mas a conversa tomou um outro rumo. E isto vem corroborar a tese de que o diálogo com os espíritos é de fato uma conversa normal, de que é preciso respeitar os interlocutores deixando fluir a conversa.

14. Sob que forma está no meio de nós e como poderíamos ter uma idéia da sua presença?
__ Uma forma semi-material.

15. Essa forma semi-material tem a aparência de que você tinha quando vivo?
__ Sim.

16. Será então como as pessoas que vemos nos sonhos?
__ Sim.

Perguntas objetivas, respostas igualmente objetivas. Aparentemente, a exploração inicial da conversa terminaria com esta última pergunta. Com o respeito que Kardec sempre tratava os espíritos ele educadamente e indiretamente pergunta se seria interessante continuar a conversa.

17. Você ficou contente de te evocarmos?
__ Sim, porque, evocando-me, posso lhes falar das impressões que temos após deixar esta vida, e isso é um grande ensinamento para vocês.

Pela resposta muito favorável Kardec se sentiu mais confiante para dirigir a ele perguntas mais complexas e mais profundas. E que exigiria muito do espírito ou, diga-se de passagem, de qualquer um de nós.

Como o espírito tinha dito que sua missão era inspirar os homens para a sua reforma moral, então seria interessante perguntar a ele onde ficaria a liberdade de pensar e agir.

18. Qual era quando vivo a sua opinião sobre o livre arbítrio do homem e qual é ela
agora?
__ Acreditava que o homem era livre de bem ou mal conduzir-se; agora porém defino isso melhor, eis que, então, eu admitia essa liberdade porque eu só via a vida presente; agora eu creio nela firmemente, porquanto já sei que o homem, no estado de espírito, escolhe ele mesmo sua carreira. Isto que faço agora eu o pedi: Não é senão a seqüência da vida que eu levava aí. O livre arbítrio é relativo à prova que escolhemos. Há liberdade do bem e do mal sempre que isso dependa da vontade; mas, ainda uma vez, o livre arbítrio é relativo à prova que escolhemos.

O espírito traz nesta resposta uma contradição difícil de ser explicada que relaciona o livre arbítrio e o determinismo. E pela resposta o espírito sugere que ainda que haja fatos predeterminados eles teriam sidos escolhidos antes. Mas, não foi suficiente para convencer Kardec.

A pergunta seguinte não foi transcrita no Livro... possivelmente porque ela completaria a última resposta. De qualquer forma, nota-se o posicionamento crítico de Kardec para compreender a questão e, como ele dizia, "para resolver todos os problemas".

19. ???
__ Sim, o livre arbítrio do homem existe; não há fatalidade como vocês a entendem. O livre arbítrio consiste em escolher, numa hora de libertação do espírito, a existência futura, aceitando pois todas as conseqüências disso. Assim, se um de nós examinar a posição anterior e a posição presente, nesta vida, vai ver que teve sempre de lutar contra o mal e que era frequentemente o mais forte. Conseqüência da posição que se tenha aceitado.

O espírito desenvolve e confirma a resposta anterior e põe em jogo a questão do mal, pois se escolhemos o que vai acontecer em nossa futura encarnação então de certo modo poderíamos escolher os acontecimentos que estão relacionados ao mal.

20. O mal é uma necessidade?
__ Sim, sem o mal seríamos incapazes de discernir o bem; foi porque eu tinha consciência do mal que estava em mim é que escolhi esta existência. Faça o bem que é a extirpação do mal; o progresso marchando sempre, mister é que o mal cesse, e nosso livre arbítrio consiste sobretudo em nos aprimorarmos em cada uma das fases de nossa vida.

Embora não tenha sido uma resposta bem articulada percebe-se que a sua essência possui grande sabedoria. Nela se destaca o propósito maior que é o bem e o mal serve apenas como um condutor para a prática do bem.

E se, segundo o espírito, o nosso livre arbítrio visa o nosso aprimoramento e o mal pode ser extirpado pela prática do bem então supõe-se que seja possível mudar os rumos dos acontecimentos.

21. O homem, por sua vontade e por seus atos, pode fazer com que os acontecimentos que deveriam ocorrer não ocorram, e vice-versa?
__ Ele o pode, desde que esse desvio aparente possa se harmonizar com a vida que escolheu. Ademais, para fazer o bem, como o deve ser, e como isso é o único objetivo da vida, pode impedir o mal, sobretudo aquele que possa contribuir a que um maior se cumpra; porque aqui, como em todos os demais mundos, o progresso é contínuo: Ele não tem absolutamente reincidências.

É cada vez mais tênue a linha divisória entre o livre arbítrio e a fatalidade. Mas, Kardec quer chegar a melhor explicação possível pois reconhece que o espírito possui a capacidade de contribuir para ela. Então, se é preciso "harmonizar com a vida que escolheu" então é sugerido que existe algum tipo de determinismo.

22. Há fatos que devam acontecer forçosamente?
__ Sim, mas que, no estado de espírito, você viu e pressentiu ao fazer sua escolha. Se você queimar um dedo, isso não importa: é conseqüência da matéria. Apenas as grandes dores que influem no seu estado moral são previstas por Deus, visto que são úteis à sua depuração e à sua instrução.

A conversa vai se aprofundando e o espírito deixa um pouco de lado as abstrações. Admite que as "grandes dores" ou os principais fatos de nossa vida estão marcados para ocorrer. E quais seriam eles? O nascimento e a morte! Por isso, Kardec intervém na resposta com perspicácia e pergunta se existe hora marcada para desencarnar.

23. ???
__ Escuta! Quando escolhemos esta existência, a hora, como vocês a chamam, não nos é conhecida. Sabemos que, escolhendo determinado caminho, adquiriremos certos conhecimentos que nos são necessários; mas, como te diziam há pouco, nós não calculamos o tempo como vocês, e sobretudo no estado de espírito, em que temos perfeita consciência de que o que chamas um século é apenas um segundo na eternidade, nos preocupamos pouco da época.

Aparentemente, o espírito não ficou muito confortável com a intervenção. Ele tentou se esquivar de responder apelando para a uma suposta incapacidade ou despreocupação com o cálculo do tempo.

Mas, Kardec, embora muito respeitoso, não deixava passar uma resposta mal formulada. De forma inteligente, ele parte de uma conclusão possível de ser obtida a partir das respostas de que se é sabido quando vai morrer então se sabe também como vai morrer. E se existe o livre arbítrio então esta morte não poderia ser evitada?

24. Quem morre assassinado sabia previamente de que gênero de morte iria morrer, e isso pode ser evitado?
__ Quando sabemos antes que vamos morrer assassinado, não sabemos por quem. . . Espera! Digo que nós vamos morrer assassinado; mas sabemos que, se escolhermos uma existência em que vamos ser assassinado, sabemos também das lutas que devemos travar para o evitar, e que, se Deus permitir, não o seremos.

Esta pergunta desorienta um pouco o espírito como pode ser observado na confusão da resposta e pela interjeição "espera!". Por outro lado, ele consegue achar uma saída ao atribuir a Deus a possibilidade de evitar uma morte anunciada.

O mestre Kardec revela a seguir que era um observador muito atento e sabia olhar a questão por todos os lados. E se há a predeterminação de um assassinato então haveria de estar predeterminado também o assassino.

25. O homem que comete um homicídio sabe, ao escolher a existência, que virá a ser assassino?
__ Não; sabe que, escolhendo uma vida de luta, tem probabilidade de matar um de seus semelhantes; ignora porém se o fará; pois quase sempre houve lutas para ele.

Mais tranquilo o espírito mostra bom senso e "joga" para o lado do livre arbítrio a possibilidade de evitar a prática de um mal ao dar uma probabilidade à realização dos acontecimentos e não mais um determinismo. Esta passagem é muito interessante porque demonstra que o diálogo servia tanto para instrução de um (Kardec) quanto de outro (os espíritos).

Satisfeito com a última resposta e para finalizar o diálogo Kardec pede ao espírito discorrer sobre o por que de não conhecermos o futuro.

26. Por que não devemos conhecer a natureza e o tempo dos acontecimentos futuros?
__ A fim de que se dêem quando Deus quiser, e, ignorando-os, você trabalhe com zelo; devemos concorrer para eles, mesmo para os adversos. Se soubesse que algo deva acontecer em seis meses por exemplo, diria: Nada posso fazer, porque vai acontecer em seis meses; e não deve ser assim.

Encerrado o diálogo com um provável agradecimento (não reproduzido) Kardec registra um comentário sobre o que poderia ser resumido ou extraído de mais importante deste diálogo.

27. A questão do livre arbítrio e fatalidade não podia ser melhor elucidada do que foi por essa comunicação. Ela pode ser resumida assim: O homem não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que pratica não estão escritos antecipadamente; os crimes que comete não são o resultado de uma decisão do destino. Pode, como provação ou como expiação, escolher uma vida em que tenha atrativos do crime, seja pelo meio em que se ache colocado ou por circunstâncias que surjam, seja pela organização mesma do corpo que lhe pode dar tal ou qual predisposição; mas tem sempre a liberdade de fazer ou não fazer. Assim, o livre arbítrio existe no estado de espírito na escolha da vida e das provas, e, no estado corporal, em ceder ou resistir aos arrastamentos a que somos voluntariamente submetidos. Compete à educação combater essas más tendências; ela será útil quando baseada em um estudo aprofundado da natureza moral do homem. Quando familiarizados com as leis que regem essa natureza moral, modificaremos o caráter como modificamos a inteligência pela instrução, e o temperamento pela saúde.

Observação: A tradução deste diálogo é de Canuto Abreu com algumas intervenções nossas incluindo a numeração das perguntas.

3 comentários:

Dermeval Carinhana Jr. disse...

Caro amigo Vital,

É sempre um prazer ver trabalhos como esse.

Como uma rápida, mas importante sugestão, penso que seria muito interessante você inserir a análise comparativa das questões relativas a esse diálogo, tal como foi apresentado durante o II Encontro da Rede de Pesquisas Espíritas.

Lançando luzes em como Allan Kardec elaborou as questões e as respostas de "O Livro dos Espíritos", mais e mais pessoas se darão conta que, cada um com suas características, todos podem colaborar para o desenvolvimento das idéias espíritas.

É por isso que trabalhos como esses são de grande utilidade.

Parabéns a você a ao Léo, que estou certo de que sempre está por perto das discussões!

Um grande abraço,

Dermeval

Vital Cruvinel disse...

Boa noite, Dermeval!

Obrigado pelos comentários! Ainda pretendo escrever mais duas partes desta postagem. Uma será para discutir o papel do entrevistador e do entrevistado. E a outra será justamente a da análise comparativa do texto do diálogo com as novas questões formuladas na segunda edição do Livro dos Espíritos. Pretendo escrever a segunda parte ainda nesta semana e a terceira na próxima.

Abraços,

Vital.

Leopoldo Daré disse...

Boa noite Vital e Dermeval

Acho importante chamar a atenção para alguns detalhes:

1) Kardec não coloca diálogos longos na segunda edição do Livro dos Espíritos, deixando a Revista Espirita como o local para o aprendiz conhecer como ele e os membros da Sociedade Parisiense trabalhavam e dialogavam com os Espíritos. Isto indica que O Livro dos Espíritos, a partir da segunda edição, assume papel muito mais educacional dos conhecimentos filosóficos do que espaço de divulgação do método científico de Kardec.
2) Kardec aproveita explora duas finalidades em um único diálogo. Desta forma, ele poderá utilizar este diálogo em duas partes diferentes do Livro dos Espíritos. (OBS: gostei de sua reinterpretação dos motivos de mudança de rota da entrevista de Kardec).
3) Uma pergunta que não pode calar: Por que Kardec recebia tantas comunicações de Espíritos referindo reencarnas em outros planetas do sistema solar, e atualmente estas informações sumiram do senário mediúnico espírita brasileiro? Sem dúvida, fica aquela dúvida cética sobre a influência cultural do médium.
4)As respostas que Kardec obteve para a primeira edição d'O Livro dos Espíritos eram curtas, em sua maioria das vezes. Por que as respostas são mais longas na segunda edição? Porque Kardec funde respostas (OBS: na primeira edição há algumas respostas com uma indicação disto. Na resposta há travessão duas vezes, o que, para mim, indica que são duas respostas diferentes, de Espíritos diferentes, para a mesma pergutna de ele formulou ).
5) Outra questão importante diz respeito a famosa expressão "Falange do Espírita da Verdade". Temos um processo cultural de mitificação dos Espíritos envolvidos no trabalho de Kardec. Observemos este diálogo que você destaca: quem é o Espírito comunicante? Não sabemos, mas Kardec o considera um Espírito sábio e suas respostas participam dos princípios da Doutrina dos Espíritos.

grande abraço e a espera de sua continuação

Leopoldo